
Com exceção de papagaios bem treinados, a maioria dos animais de estimação não consegue vocalizar aos cientistas de alimentos quais produtos eles acham mais gostosos. Especialmente nos competitivos mercados de alimentos para cães e gatos, essa informação é muito importante para formuladores que devem considerar a palatabilidade ao desenvolver novos produtos ou aprimorar os alimentos existentes para pets.
Sem a ajuda dos bichinhos, os pesquisadores desenvolveram uma ampla gama de técnicas experimentais para avaliar quais produtos mais agradam aos animais de estimação.
Para discutir a utilidade das técnicas disponíveis e auxiliar o desenvolvimento de produtos para os fabricantes, pesquisadores da Universidade do Arkansas (EUA) e da Simmons Pet Foods publicaram uma revisão de literatura que identificou os principais atributos sensoriais de pet food e resumiu quais os melhores métodos para avaliar a palatabilidade. A análise foi publicada na revista acadêmica Journal of Food Science.
Atributos sensoriais importantes em pet food
“Para os tutores, como eles não costumam provar os produtos alimentícios para seus pets, os atributos sensoriais relacionados à ingestão, como gostos, odores e textura (sensação na boca) são menos considerados em comparação com a aparência na hora da compra”, escreveram os autores do estudo. “Para cães e gatos, no entanto, esses atributos estão intimamente relacionados às suas preferências alimentares”.
A revisão identificou quatro aspectos dos alimentos que foram particularmente importantes para os animais de estimação ou seus tutores:
- Aparência: forma, cor e textura impactam no apelo das rações, especialmente para tutores, sendo as mais claras e multicoloridas frequentemente preferidas.
- Aroma: as pistas olfativas influenciam significativamente as preferências por pet food, particularmente em cães que dependem fortemente do olfato.
- Sabor: embora os cães possam detectar todos os cinco gostos básicos, os gatos não conseguem perceber o doce. Por isso, nota-se que os cães preferem sabores de carne e doces, enquanto os gatos favorecem alimentos ricos em umami.
- Textura: a sensação na boca do alimento para animais de estimação é influenciada pelo teor de umidade. Enquanto os alimentos secos tendem a ser crocantes, os alimentos úmidos têm texturas variadas, como pedaços, patês ou molhos.
Métodos para medir a palatabilidade de pet foods
Segundo a revisão de literatura do artigo, “para avaliar a palatabilidade de alimentos para animais de estimação, os estudos desenvolveram métodos focados principalmente nos próprios animais. A entrada humana, seja de painelistas treinados conduzindo análise sensorial descritiva ou de tutores de animais de estimação não treinados conduzindo testes de consumidor, também foi incorporada para caracterizar os atributos sensoriais e prever a palatabilidade. Além disso, análises instrumentais têm sido empregadas para medições objetivas de atributos sensoriais e para prever indiretamente a palatabilidade”.
Os métodos de teste de palatabilidade podem ser divididos em duas categorias: testes de preferência (teste de dois potes) e testes de aceitabilidade (teste de um pote).
Teste de Aceitabilidade (teste de um pote)
- Uma única amostra de alimento é apresentada ao animal de estimação e o consumo é medido.
- Usado em ambientes domésticos e laboratoriais.
- Oferece insights sobre a aceitação geral, mas não determina a preferência.
Teste de Preferência (teste de dois potes)
- Os animais de estimação recebem duas amostras de alimentos diferentes para avaliar sua preferência.
- A taxa de ingestão e a seleção da primeira escolha são registradas.
- Requer animais de estimação treinados para minimizar o viés.
Outros métodos para avaliar a palatabilidade
- Protocolo de Avaliação Cognitiva de Palatabilidade (CPAP): usa tarefas de discriminação de objetos para avaliar as preferências alimentares com base no aprendizado associativo dos animais de estimação.
- Teste de Classificação de Preferência: avalia múltiplas amostras simultaneamente, classificando a ordem em que os animais de estimação consomem diferentes opções.
- Análise Comportamental: observa as ações dos animais de estimação, como cheirar, lamber e se lamber para inferir a preferência.
- Análise de Expressão Facial: usa sistemas de codificação de ações faciais para interpretar as respostas emocionais dos animais de estimação aos alimentos.
Embora os pets sejam os consumidores finais, painelistas humanos e técnicas instrumentais também podem ser usados para caracterizar os atributos sensoriais dos alimentos.
Análise Sensorial Descritiva
- Painelistas humanos treinados avaliam amostras de alimentos para animais de estimação usando léxicos desenvolvidos para aparência, aroma, sabor e textura.
- Fornece insights para desenvolvimento de produtos e marketing.
Estudos de consumidores com tutores de animais de estimação
- Pesquisas avaliam os comportamentos de compra e as percepções dos tutores de animais de estimação sobre pet food.
- Fatores como saúde, nutrição e qualidade dos ingredientes geralmente superam o apelo sensorial nas decisões de compra.
Análise Instrumental
- Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massa (GC-MS): identifica compostos orgânicos voláteis que influenciam o aroma.
- Nariz e Língua Eletrônicos: analisam rapidamente os perfis de odor e sabor para complementar a avaliação sensorial humana.
Após revisar a variedade de medidas de palatabilidade disponíveis, os pesquisadores concluíram que os métodos tradicionais, como os testes de um e dois potes, permanecem essenciais, mas novas abordagens, incluindo análise comportamental e avaliações orientadas por IA, estão expandindo a compreensão humana das preferências de alimentos para animais de estimação.
“Tanto os métodos tradicionais quanto os contemporâneos são valiosos para a indústria de pet food, proporcionando uma melhor compreensão das reações e comportamentos dos animais de estimação com relação aos estímulos alimentares, bem como insights sobre as preferências dos tutores”, escreveram os cientistas.
Os autores sugerem que pesquisas futuras devem se concentrar na padronização dos protocolos de teste, na exploração de influências multissensoriais e no aproveitamento da tecnologia para aprimorar o desenvolvimento de produtos e melhorar a nutrição de animais de estimação.