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Mais brasileiros compram ração para pets, mas crescimento do setor ainda é lento

Mais de 60% das famílias brasileiras incluem alimentos para pets em seus carrinhos de compras. No entanto, entidades divulgam que crescimento do setor ficou abaixo do esperado e não atingiu o potencial do mercado.

Mais de 7,8 milhões de lares brasileiros passaram a comprar alguma ração para cão ou gato em 2024.
Mais de 7,8 milhões de lares brasileiros passaram a comprar alguma ração para cão ou gato em 2024.
Freepik

O Brasil tem uma das maiores populações pet do mundo. São mais de 160 milhões de pets – entre cães, gatos, aves, répteis, peixes e pequenos anfíbios – que são estimados membros das famílias brasileiras, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e do Instituto Pet Brasil (IPB). Isso também significa que cada vez mais casas incluem rações e outros alimentos para esses pets em suas compras mensais.

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Um estudo do Kantar mostra que mais de 7,8 milhões de lares brasileiros passaram a comprar alguma ração para cão ou gato em 2024, totalizando 62% das famílias brasileiras colocando a categoria em seus carrinhos de compra. Isso se reflete em um crescimento de 12 pontos percentuais em penetração da indústria brasileira de alimentos para animais de estimação nos últimos quatro anos. No entanto, especialistas apontam que esse crescimento ainda é lento visto o potencial do mercado brasileiro.

“O Brasil é o terceiro maior mercado pet do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Mas os norte-americanos possuem uma fatia de mercado muito maior que a nossa”, afirma José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet e membro do Conselho Consultivo do IPB. De acordo com o Statista, a penetração de mercado de pet food nos Estados Unidos é de 27,9% em 2025.

Para Galvão de França, fatores como a inflação, volatilidade do câmbio – que influencia o preço de commodities necessárias para a produção de pet food –, custos logísticos, novas tendências de consumo e tributação são influências negativas nesse cenário. A última sendo a que mais afeta o ganho de mercado.

“Nos Estados Unidos, o maior poder de compra da população e a cultura de consumo explicam um pouco da penetração mais elevada. Mas menos impostos tem muito peso nesse cenário”, relata. No país norte-americano, a carga tributária para alimentos para animais de estimação gira em torno de 7%. No Brasil, os impostos chegam a representar 50% do preço do produto final. 

Crescimento do setor pet em 2024 foi abaixo do esperado

O setor pet brasileiro fechou o ano de 2024 com um faturamento total de R$ 75,4 bilhões (US$ 12,7 bilhões), abaixo das projeções que estimavam superar os R$ 77 bilhões (US$ 13 bilhões). A venda de alimentos industrializados para animais de estimação representou 54,1% do faturamento do setor, encerrando o ano com R$ 40,8 bilhões (US$ 6,8 milhões).

Os dados, divulgados em março pelo IPB em conjunto com a Abinpet, indicam um crescimento total de 9,6% em relação a 2023, não chegando aos dois dígitos pela primeira vez desde 2019, antes dos impactos da pandemia de Covid-19. “O setor pet segue sólido, mas os resultados de 2024 refletem os desafios econômicos e o peso da alta tributação sobre os produtos e serviços do setor”, comenta Caio Villela, presidente do IPB.

Em relação aos canais de acesso, pet shops pequenos e médios permanecem como quase metade de todo movimento do varejo. Até o final de 2024, movimentaram R$ 36,6 bilhões (US$ 6,18 bilhões). Em segundo lugar estão as clínicas e hospitais veterinários, que representam cerca de 18% do faturamento (R$ 13,4 bilhões / US$ 2,2 bilhões). Completando o pódio, as cadeias de mega stores pet tem uma fatia de 9,3%, faturando R$ 7 bilhões (US$ 1,1 bilhão).

No e-commerce, os pet shops virtuais representam 40,6% do faturamento, com R$ 2,3 bilhões (US$ 388,5 milhões), seguido pelas lojas virtuais das mega stores, com R$ 1,5 bilhão (US$ 253,3 milhões​) (26,8%) e pelas lojas virtuais de pequenos e médios pet shops, com R$ 1,2 bilhão (US$ 202,7 milhões) (21,5%). Segundo o estudo da Kantar, aplicativos são destaque para o acesso às lojas virtuais, saltando de 32% de contribuição para 39% em 2024. Ainda assim, o WhatsApp continua como queridinho dos brasileiros, abocanhando 45% das solicitações.

“Apesar da relevância crescente do digital, este crescimento mais tímido é uma preocupação. O consumidor está mais criterioso, o que reforça a necessidade de estratégias eficientes para manter a competitividade”, declara Vilela.

Impactos da tributação no mercado de pet food

As entidades apontam a tributação como o principal fator para os resultados de 2024. Além do crescimento tímido, os altos impostos também explicam a queda histórica na produção de pet food.

Em 2024, 4 milhões de toneladas de pet food foram produzidas no Brasil, uma redução de 0,6% em relação a 2023. Segundo as entidades, é a primeira vez na série histórica que uma queda é registrada no segmento. “Calculamos que, para 2025, se o cenário tributário e o câmbio permanecerem como estão, a queda na produção será maior, chegando a quase 4%”, prevê o presidente-executivo da Abinpet.

No Brasil, o alimento completo para animais de estimação é tributado como produto supérfluo, mesmo que três a cada cinco residências tenham um pet. “Se houvesse uma adequação tributária, os preços do setor pet seriam reduzidos e a demanda ampliada, beneficiando milhões de famílias brasileiras”, ressalta Galvão de França.

De acordo com os levantamentos encomendados pelas entidades, a isenção de 60% poderia alavancar a produção industrial para até 9 milhões de toneladas anuais em potencial, e aumento geral de 210%, levando em conta toda a oferta de produtos e serviços, na arrecadação de impostos. Além disso, o presidente da Abinpet também defende que a isenção aumentaria o acesso de famílias a produtos essenciais para pets, podendo diminuir as taxas de abandono animal. "A inclusão do setor pet nas alíquotas reduzidas é uma questão de justiça tributária e de saúde pública", diz Galvão de França.

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